terça-feira, fevereiro 21, 2006

Barriguez

Ando bem mais ansiosa do que há uns tempos, onde a a gestão do estado parecia até aqui mais fácil, suportável e bonita.

Agora não, pareço uma pata choca, ando que nem uma tartaruga, para quem me conhece é tipo de ferrari a carocha.

Não é meu estilo, mas lately a coisa tem estado a custar ...demais. Pelo calor, pela constante sensação de que vamos rebentar a qualquer momento, pela ansiedade de ter a minha cria nos meus braços (será que vai gostar de mim?), pelo aumento de sensibilidade e repúdio a tudo o que possa vir a trazer bactérias indesejadas à sua entrada (como o lixo que de novo voltamos a acumular nesta cidade), enfim paremos por aqui.

Mas não menos raro, é a solidariedade das mulheres de todo o tipo, feitio e religião e a elas agradeço o detalhe, a atenção quando a mim se dirigem sem me conhecerem e dizem coisas do tipo:

“Ainda falta muito? Aguente firme”

“Eu sei o que está a passar, não desespere” (e olham para os meus pés...)

“Então, está a correr tudo bem?”

“Dê cá a água que não deve estar a carregar peso nesta fase”

“Precisa de alguma coisa?”


Não sonham o bem que sabe, porque as minhas costas fraquejam ante o puxão frontal, não sonham como sabe bem saber que sabem o que se passa, não sonham o alívio que é saber que não estamos sozinhas num momento que custa de facto. São raros os momentos de alívio físico, que é o que me está a custar e ter alguém que nos é estranho preocupar com o nosso estado, produz hormonas muito positivas. Pela primeira vez na minha vida sinto que não sou julgada, por outras mulheres, de inimiga a amiga, passei o teste do sacrifício, já posso ser respeitada.

Está quase a acabar esta fase e sei que terei saudade dela, já o disse aqui – neste momento em que a minha filha é só minha - e que esquecerei com rapidez o mal que proporciona o estado de barriguez.

Há uns posts atrás abordei a questão da dignidade de todo este processo, e não vem tarde o artigo da última revista “Pais e Filhos”, onde a maternidade Alfredo da Costa revamped todo o seu aparato mais que atrasado tudo em nome da dignidade e acompanhamento da mulher neste momento.

Seria inteligente que passasse a existir um maior conhecimento e sensibilidade para o que uma mulher passa quando gere um ser dentro de si, não científicamente – largamente abordado – mas socialmente e biologicamente. Não para ser tratada como uma doente (apesar de muitas mulheres realmente passarem muito mal), mas e apenas ser tratada com a devida atenção que merece. Pode ser que resulte daí um maior cuidado de sim mesmo, uma maior forma de reduzir quiça piores estados de barriguez.

Tenho ouvido também comentários engraçados perante a possibilidade de entrar em depressão – baby blues. Não tenho pensado muito nesse aspecto, mas esta noite tive um sonho muito engraçado, onde uma plateia de miudos, os que fizeram o videio clip dos Pink Floyd “another brick in the wall”, a gritarem ao mesmo tempo “you should be crying more!”, e confesso que de facto chorar ainda não aconteceu com esse sentido. Posso vir a ter surpresas daqui para a frente.

Aliás, essa a grande aprendizagem durante todo este tempo – cada barriga é uma barriga e tudo aquilo que planeamos acontece sim mas ao contrário.

5 comentários:

Passada disse...

Avó Laura??? Quem diria :)
A bem da verdade ainda falta muito por fazer quando se está a menos de duas semanas, mas sei que tudo se encaixará. É a preocupação natural junto a uma montanha de ansiedades!!!
Beijocas e obrigada

Anónimo disse...

Felicidades e tudo de bom para vocês! Li o teu comentário sobre a ilha de Inhaca no blog da Pituxa, tenho andado a informar-me na net, acho que vai ser o meu próximo destino de férias.... vejo que recomendas
um beijinho
Joaninha

Passada disse...

Olá Joaninha
Mesmo que esta ilha estivesse imprópria para consumo eu recomendaria, já que passei os melhores anos da minha vida. Fui uma preveligiada porque meu papá tinha barco e nós catraios passámos a vida na água: pesca, ski, conhecer o mundo que é o mar. Não deixes de visitar o museu, é único no mundo e verás porquê.
Beijos

Xana disse...

Esta é a fase do corpo de vaca e pés de porco que ninguém repara porque só olham para a nossa barriga. Depois vem a fase em que não cabemos em nada do que temos no roupeiro e já não temos a desculpa de estar grávidas mas que também ninguém repara porque só olham para a coisinha linda que nasceu ... e quando finalmente damos conta de que voltámos à vida real de todos os dias já estamos uma beleza e todos perguntam: é a mãe? Quem diria, já está tão elegante! Bejinhos

Passada disse...

Olá Xana, inda "àssim" acho que estás a ser simpática na adjetivação. Já tirei as letrinhas de verificação macarrônica, viste?
um beijo