domingo, março 06, 2005

Riqueza dos orgulhos

Tem nome, hoje ou esta noite e debaixo ainda de um frio de rachar - "oh menina mas aqui dentro do taxi estão 12º!!" aaaahhhhhhh. Entende-se, né? - tive um miminho, o de ver a minha mana mais nova, que entretanto já cresceu, a recitar Fernando Pessoa com pujança de pulmão gripado e ao som dos pink floyd. Ela tem jeito para a coisa, com laivos de speed mental (que Fernando Pessoa diria para abrandar) e algum nervosismo que espero tenha sido por saber que estava lá, com a máquina em cima dela, só faltava sentar ao colo.Já lá vão os anos em que estudei o Pessoa e me sentei na mesa "dele" no Nicola, mas quando "ele" é recitado, cantado, gritado, rido e chorado pela minha mana, o filme muda de figurino.

Trespassa-se o orgulho para uma magia intemporal, cessa toda a vida circundante e guarda-se não em jeito de memória mas de vivência partilhada, aí a riqueza, aí o momento mágico de ter visto a minha mana nua dela própria, era o Fernando e a Pessoa.

Lembro-me o que senti quando numa prova de natação, África do Sul e os meus pais lá me foram ver, bater palmas e gritar pelo meu nome, hoje sem o grito ruidoso é no silêncio de um peito cheio de tanto que estive do outro lado a convivar de braço dado com este orgulho.

Fato preto,camisa branca, gravata do pai e cabelo dela. O acender do cigarro na "Tabacaria", pufou pela sala, outros tempos de poesia, de sentimento, de sentir.


Ali estava a minha mana mais nova, com uma classe claramente urbana-ó-sofisticada na escola secundária de São João do Estoril recheada duma juventude avançada, esperançada e quiça demasiado madura.

Ali estava aquele ser que com meses de idade e sem convivência me abraçava como se nos conhecessemos há milhentos anos a confirmar um laço além do sangue, um laço de cultura.

Ela até podia ser o oposto que eu encontraria de certeza a mesma intensidade no orgulho e a sua riqueza.

3 comentários:

Madalena disse...

Apesar de ser de modo pouco directo o papá babado já tinha feito a introdução antecipada a este orgulho. Parabéns a quem faz o feito e atmbém a quem se sabe orgulhar, quu isso não é para todos.
Beijoca, Passada querida!
Além disso o teu texto tem muita Poesia. Lindo!!!!!

Passada disse...

Mada é através dos teus olhos que muitas das vezes relaxo. Das de mim o que muitas das vezes nem eu conheço ou reconheço. E isso de saber orgulhar, de facto não é para todos. Beijinho pa ti

None disse...

olá, olá, vou passando por aqui; tem estado de arrepiar para quem vem de "lá"; não há mal que sempre dure :-) e depois existem estas compensações, bálsamos...