sexta-feira, janeiro 07, 2005

Vóvó Alice, as nossas empregadas.

De tudo podervos-ei dizer em relação às empregadas ou empregados que temos, mas está na hora de "postar" um tributo para a sua incondicional lealdade, carinho, dedicação e amor. Quando aqui voltei a Maputo, já no longínquo ano de 1994, meu pai ainda cá estava e já tinha a trabalhar com ele a Vóvó Alice. Tentarei ser breve, mas estas coisas de ser humano nem sempre ajuda, e pela positiva. Meu pai decide voltar para Portugal, achando eu "coisa" de doidos, dado que eu estava a fazer precisamente o contrário, a sair de Portugal. Tinha com ele na altura dois empregados em casa e um no escritório que foram naturais heranças de uma longa história dele próprio aqui em Moçambique. A altura em que toma a decisão eu não estava sificientemente organizada financeiramente para aqui ficar mas a vontade era maior e lá me decidi levá-lo ao aeroporto em Johanesburgo com as suas malas e toda a história dele e voltar para Maputo. Desse momento, só vale a pena relatar o primeiro roubo de carro à mão armada que tive e tive que deixar meu pai arrancar muito preocupado, tendo proferido umas palavras mui interessantes e que cito (porque vale a pena) "só tenho pena que não tenhas 5 anos para te puxar pela orelha e por-te no avião!" Assim foi e o meu regresso nos 600kms a Maputo foram também marcados por uma multa que apanhei por excesso de velocidade. Dizia eu na altura ao meu pai ou dad como lhe chamamos, que Maputo se encontrava na fase de crescimento e ele já saiu de cá com bicas disponíveis na praça. Ao regressar a casa, tenho eu uma conversa muito séria com todos os empregados na medida em que eu não sabia bem o que fazer, como fazer e se conseguia fazer. Se não me engano na altura meu pai disse anos mais tarde, que me tinha dado uns meses para aqui aguentar, já que eu estava sozinha. E o tom da conversa foi na base "não sei quando terei dinheiro para pagar ordenados, mas quando tiver pagos os retro-activos, agora quem quiser sair pode sair sem remorso". Assim foi, sairam 2 na altura mas a Vóvó Alice, olhou para mim e disse-me "quem vai tomar conta da menina?" Eu tinha 26 anos. Respondo com meio lágrima de medo, meia lágrima de abandono. Vóvó, não te preocupes vai tomar conta dos teus eu cá me arranjo e quando eu puder vou-te buscar lá na casa onde estiveres". Ela não foi, virou-me as costas e disse-me que tinha de ir fazer a sopa para a menina porque a viagem de JHB foi longa. Esse momento marcou-me tanto, que ainda hoje só consegui chamar a Vóvó Alice de Vóvó, e desde esse momento está ela comigo e na família do meu pai há uma catrafada de anos. Tem hoje penso eu, cerca de 60 e tal anos. Já a mandei para casa descansar, eu continuaria a pagar ordenado todos os meses, mas ela diz que está à espera do meu filho primeiro e que só depois de tratar dele é que vai pensar nisso. A Alice, foi bábá da minha irmã e da irmã dela, trabalhou com meu pai mas tratou dele sempre e hoje aqui está, mulher com problemas de tensão por perto, sempre por perto sem falhar um único dia porque tem muitas saudades do patrão Nelson e da Jessy, não deixando passar duas semanas sem que pergunte por eles, pela saúde, se estão bem. A Vóvó Alice tem umas características engraçadas: é fina, e foi madrasta da senhora que trata das minhas unhas (esta também merece o seu post próprio) todas as semanas, chegou a ir a Portugal de férias, não come nada do que é habotual (carne, peixe) pela religião, mulher de pouca palavras, mau português mas duma dedicação e lealdade que só conheci com esta empregada. A ela, aqui fica o meu carinho, respeito e admiração também pela coragem dela em ter acreditado em mim.

2 comentários:

Madalena disse...

A tua ternura é linda e comovente. E pelo que contas da vovó Alice é também justa. Apesar de um pouco mais nova, acho que entendo a dedicação da vovó Alice. Há qualquer coisa na maneira como te relacionas com as pessoas aqui(onde valemos pelo pensamento e não pela carcaça,graças a Deus!) que me leva a crer que ninguém resiste a ser-te dedicado, nos planos devidos claro. Se tiveres o tal bebé (espero que sim, pois parece ser um desejo) ele vai ser o teu filho dedicado. Todos os teus vão ser dedicados contigo.
Um beijinho graaaaaaaaaaande

Passada disse...

Madalena: só vê a ternura quem a tem e tu claramente és cheia dela. Concordo, aqui neste espaço não temos nem bigode, nem pêlos mal rapados, qual julgamento preconceituoso do que poderemos ser. Obrigada pelas tuas palavras, pela doçura delas. Mesmo no meio da minha agressividade consegues ver coisas boas. Beijo pa ti a para os teus leoninos!