quinta-feira, janeiro 27, 2005

Sou filha de guerra.

E de Angola, talvez por causa do percurso dela, a guerra, toda a minha vida daí para a frente tenha tomado não só em percurso mas em importância contornos fenomenais. Eu era muito pequena. E permitam-me a viagem. Tem sido longa.

The recollection of it are as if like photos of a war that was not mine. So young, not knowing anything else but hiding, switching of the living room lights, the scare and insecure fear of the dark alongside the noise of gunfire or bombing, rockets fluying over in the sky.

Os curtíssimos 4 anos em que vivi, naquela que é a minha terra natal marcaram para sempre toda a minha vida. A instabilidade criada nas pessoas, os adultos. As razões dessa guerra, que deus nos absolva de tanto atraso mental (não sei classificar guerra de outra maneira e se formos a ver os reis e os donos das guerras têm sempre um ego do tamanho do universo motivados tantas vezes por pequenez...), ao que me lembro era a justificada independência de Angola, qual filha saída de um ventre que nunca foi-Portugal. Que raio, mas eu sou portuguesa!!! A confusão inicia o seu percurso aí mesmo. E eu não fiz mal a ninguém!

Don´t do this, don´t say that, don´t go outside now, not now. But why, I was never, ever told that it was a war going on. The flags in the car, the extreme expressions marked in my soul as if I had to have 20 or so years old. I grew without knowing I had grown. There are some eyes that don´t seem to leave my soul and live alongside myself as if they were mine.

A primeira entrada em portugal e a rápida saída também devolve-me a memória involuntária duma não aceitação de portugueses (que apesar de terem saído de portugal e foram parar a áfrica por cumprimento de serviço militar...need I say more? ou outro se quisermos voltar mais lá atrás na história), por portugueses "ultramarinos", ou brancos de segunda ou portugueses que não são bem portugueses. Só o português saberia dar um significante a um nacionalidade com tantos significados. Sem no entanto nada significar. Vim a saber depois de crescida e voltar a Portugal que seria por receio a "estes" portugueses virem retirar empregos e etc e tal. Ya!

I will never forget the way out of Angola, at the airport. Nothing to eat or drink, a plane ticket to go, at the time I had no idea what the hell was going on, but the confusion told me that something was going on. We had to leave. And I do remember the fact that I did not understand why we had to leave. That and playing with my moms cigarretes. yes I do smoke today. I had lost my country for the next 30 years. Because I am portuguese.

in "curtas memórias sentidas e lembradas ao som do comboio na celebração dos 60 anos da libertação de Auschwitz na CNN"

6 comentários:

Menina Marota disse...

Não sei que caminhos tomei, para estar aqui. Mas o certo é que me cruzei contigo e sei que voltarei. Não sou filha física de Angola, mas sou-o no coração, uma vez que vivi lá um pouco da minha adolescência e voltei porque me obrigaram a vir embora... Deixei lá amigos e o meu coração também. Vou voltar aqui, com mais tempo para te ler. Porque o mereces e porque também quero. Um abraço fraterno
http://eternamentemenina.blogs.sapo.pt/

Passada disse...

Que nome tão maroto!!:)
Bien venu a ma place (tá bem escrito?). Não importa o caminhos que fizeste para aqui chegares, chegaste. Isso já foi bom. Já te visitei também, a dizer-te que essa meninice existe assim como as nuvens de todos os dias do céu em cada céu. Um beijinho para ti e até ao teu regresso

Nelson Reprezas disse...

Fiquei na dúvida se havia de comentar aqui ou no post em cima. Vai aqui :) Talvez eu não saiba bem avaliar o que é nascer num país, viver lá quatro anos e nunca mais lá voltar... talvez por isso eu me socorra de algum pragmatismo para "sentir" estas coisas... talvez por que tendo andado por tantos lados eu tenha descoberto um "fundo" que sinto meu e onde me movimento com gosto. E esse fundo é incorntornavelmente europeu, apesar de ainda hoje eu sentir a magia dos wide open spaces and skies of blue. Um dia farás as tuas escobertas também. Um beijo.

Passada disse...

Espumante: o fundo enquanto descoberta não tem dúvidas e penso que se o post for bem lido, quiça entendido verás que não se trata de perder origem, mas sim de nunca a mais ter visto e em nome de uma nacionalidade que tenho. Beijinhos :) e um bom fim de semana gelado por essas bandas. aqui um calor complicado, eram 10pm ontem e a temperatura batia os 34 graus!!!

None disse...

É complicado quando se chega a Angola um belo dia, na idade em que se deveria entrar na creche e depois por lá se continua, e adora-se aquilo, naturalmente aquilo é a nossa terra, lá se cresce, lá se aprende tudo. Depois, noutro qualquer dia, viagem de regresso, só para ver se dava para ficar e que diferença! Claro que não dava para ficar. Volta-se para lá. Chegando ali a S.Tomé (viagem de barco, pois) que sensação de chegar a casa e ainda Angola estava lá mais para o sul, ainda tão gente pequena e já com saudades da terra adoptada!
Posso continuar neste tom, mas já se percebe que é impossível ficar-se "descontaminado" e por vezes confuso, não por não se saber a identidade, mas porque alguma coisa que se perdeu, como se perde a infância, que foi sem guerra.
Afinal é Saint-Exupery que diz: je suis d'une enfance comme d'un pays...
Sem nostalgia mas com a convicção de pertencer a vários lugares e com a riqueza que isso pressupõe.
Gostei de ler "Sou filha da guerra".
Bjo tb.

Passada disse...

Olá "L", não consegui aceder ao teu blog, com pena minha. Será que podes dar-me uma luzinha? Obrigada pela tua visita e no caso do teu comentário, só posso concordar com a riqueza de que falas e que constitui seguramente a minha pessoa. Um beijinho para ti e fica bem.