desconheço o autor
__________________________
__________________________
Por entre os escombros de uma campa de mármore
cinzenta, que levava as inscrições dispersas o nome de
Pedro Paulo Perreira Pinto, no cemitério velho da
Maxixe, Castiano Lucas Rungo, escapou, numa manhã
quente em Dezembro de 1992, a um linchamento certo, por
parte de cinco homens munidos de catanas que
procuravam repôr a honra da família por terem
encontrado na cama do irmão, que se aviara para as
minas da África do Sul, Rungo, completamente despido,
rasfatelado e gemendo entre as coxas de Terezane,
cunhada destes.
Adultério era a palavra certa para descrever aquele
ambiente, que se comentou em manhãs infindáveis, por
toda a extensão do distrito. O assunto de que
Castiano atropelava, em sábados quentes e chuvosos, a
honra dos Warethuana, foi difundido de boca em boca
duas semanas até a fatídiga noite em que foi flagrado,
em delito.
Nessa noite, o céu estava limpo, e a lua apresentava
um ligeiro corte. Castiano tinha trajado um fato
branco, vindo da Ilha de Mucucune onde vivia e
dedicava-se a actividade pesqueira, seu meio de
subsistência.
Conhecera Terezane, no cais da Maxixe onde esta ia aos
sábados a busca de peixe.
Ofereceu-lhe peixe vermelho, da primeira - de borla.
"Passe a vir buscar todos os sábados dez quilos".
"Está bem, o senhor é muito simpático"
"Amei os teus olhos e o teu sorriso"
Ela abriu a boca e com os dentes alvos que tinha,
espalhou um sorriso largo. Honesto. Monumental.
Três sábados depois, Novembro findava e marcaram o
primeiro encontro. Castiano Lucas Rungo, como nos
sábados que seguiriam, até desembocar no cemitério da
Maxixe velha, em fuga, onde escapou do linchamento,
passou a cortar a baía, com o seu barco a vela, e nas
noites em que o vento não soprava, ele remava para
rever os dentes alvos e honestos de Terezane.
"Gosto muito de ti Terezane"
"Também gosto muito de ti Castiano"
"Porque não vens comigo para a ilha que te farei a
mulher mais feliz da terra".
"Não posso"
"Porquê?. Porquê Terezane?!"
"Estou no lar e o meu marido volta em breve da África
do Sul, mas se quiseres podes vir ficar comigo até de
madrugada e depois voltas".
Assim foi nos sabádos seguintes, facto testemunhado
pelos cegos da zona que fizeram a informação circular
de forma vertiginosa, nas duas semanas seguintes por
toda a extensão do distrito.
Os cunhados tomaram conhecimento e montaram uma
emboscasda. Estavam armados de catanas.
Bateram à porta. Terezane perguntou: "Quem é?"
Eles não responderam. Castiano, virou-se para ela e
disse, não ligues que a esta hora da madrugada só
podem ser ladrões.
Ele estava por cima e ela por baixo, quando a porta do
quarto desabou e ela gritou: " Foge Castiano são os
meus cunhados".
Duas catanas passaram-lhe rente as orelhas, enquanto,
com o fato branco nas mãos pulava a janela, correndo
na direcção oposta do mar onde estava o seu barco: ia
em direção ao cemitério. Eram duas da manhã. Castiano
Rungo, entre campas dispersas, escondeu-se numa árvore
enquanto vestia.
Até o primeiro galo cacarejar as buscas continuavam,
quando de repente, Rungo exausto e assustado encontrou
uma campa entreaberta com as inscrições dispersas, gravado estava o
nome de Pedro Paulo Perreira Pinto. Meteu ali a roupa
e totalmente nú, completamente transpirado, sentou
sobre ela quando foi abordado pelos cinco dos cunhados
que ainda empreendiam a busca:
"O senhor não viu um senhor aqui de fato branco?".
Ele manteve num silêncio sepulclar.
Eles insistiram, com algum receio na questão:
"O senhor não viu um senhor aqui de fato branco?".
Finalmente, depois de sentir os primeiros raios que se
abateram sobre o seu dorso nú disse:
"Estou a sair desta campa dezoito anos depois da minha
morte ainda por esclarecer. Estou cansado do calor que
me atormentava".
Ao ouvirem aquelas palavras, as catanas dos cinco
Warethuana cairam em solo firme. Tremeram. Desmaiaram.
Castiano Lucas Rungo meteu a mão no sepulcro pegou no
fato branco, vestiu, passou pelos homens desmaiados,
localizou o barco e nunca mais voltou a Maxixe.
Há gajos bons.
POR UM MOÇAMBIQUE MAIS UNIDO!
Sem comentários:
Enviar um comentário