quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Mas não estamos lá ainda.

Digo isto porque o previlégio que eu tenho de acesso à cultura, à universidade à saúde, ao consumo e às oportunidades ainda não chegou nem a metade da população este este imenso Moçambique tem.

Enquanto Maputo fervilha de desenvolvimento, e porque todas as capitais têm sempre a prioridade sobre a vila do interior em qualquer parte do mundo é normal, Maputo será por definição a própria ilusão do irreal.

80% da população não tem acesso à electricidae. Pensem - não há geleira, televisão, rádio ou fogão. Os salários continuam muito aquem do necessário para se conseguir "procurar" oportunidades de vida ou até melhorá-la. Acesso ao crédito é ainda embrionário, carecemos duma indústria real, o investimento não é incentivado, apesar das melhorias legais.

O Moçambicano(a) não tem uma saúde digna, já o mencionei aqui e não me alongarei neste ponto pela sua extrema carência. Digo extrema. Aqui morre-se de malária quando é tifóide. O Moçambicano não acompanhou este desenvolvimento de Maputo e só de Maputo.

O racismo, xenofobia e corrupção, meto-os todos no mesmo saco e sem grandes comentários porque e todos sabemos que ele é fomentado por quem tem, especulado por quem tem interesse em manter o desiquilíbrio e utilizado por aquele que ainda acha que a melhor maneira de trabalhar não trabalhando é acusando o estrangeiro (passo aqui a informação dum blog que nasceu em Portugal profundamente racista, xenófobo - onde afirma que o emigrante - sendo o meu caso - só o faz para países desenvolvidos e com condições: www.nacional.blogspot.sapo.pt se não me engano) e reina a ignorância e o desconhecimento por uma grande maioria que não consegue defender o seu direito e o seu dever.

Passamos à fase seguinte de interesse, estamos longe de ter desenvolvido. E passo o exemplo das eleições passadas, onde no primeiro dia de voto, uma senhora no norte que lhe foi inquiriso porque não teri aido votar, molhar o dedo: é que nesse mesmo dia começou a chover e tive que ir plantar a maçaroca na maschamba. Claramente visível onde estamos e precisamos de estar.

Abundam internet cafés, mas saber utilizar. Temos e dispomos de alta tecnologia, as geleiras inteligentes e os carros com GPS mas é uma dianteira irreal da maioria.

A educação é um sector que tem de ser drásticamente trabalhado. Como já disse anteriormente, tenho um pequeno programa a correr na TVM desde 2002 (inédito) onde passo a agenda cultural do país apenas e em 3 minutos, e uma das rúbricas que temoslá é a Formação e damos oportunidade às entidades de ali colocarem cursos. Recentemente o Instituto Cultural Alemão promoveu um curso de Changana e Alemão e a responsável faz-me um mail assim "Marta, thank you for your support, we have a lot os estudent for the Changana course, please can you pass on tv...". Dá para entender a mensagem?

Existe um problema de língua não resolvido, por razões históricas mas latente e suspende gerações inteiras da segurança que é saber - ok, a minha língua é esta, vou estudar aquela como segunda porque me trará vantagens no mundo profissional deste mercado ou daquele. Esta é uma área que terá de se afirmar de uma vez por todas.

No todo é preciso desenvolver a massa crítica humana também, talvez assim quem sabe daqui a 10 ou 20 anos o cenário seja mais positivo. Neste momento não é e isto é bem visível quando se faz estudos de mercado.

Em jeito de conclusão, houve algum crescimento a meu ver muito superficial e há muito trabalho a ser feito, pelo menos de modo a ver-mos uma maior oportunidade ao Moçambicano. Faltam as infraestrutura de base - estrada, comunicações etc.

De novo repararam que não toquei no lado social, ainda não estou inspirada.

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