Foi à mão armada e levaram-me um carro, inteiro. O 2º e o 3º não falarei, porque do primeiro já poucos acreditavam (isto em portugal, por estas bandas sabe-se...).
O estado de gravidez leva-nos a muitas sensações, umas estranhas outras surrealistas ou ainda do tipo “credo, será que acabei de pensar nisto? Desta forma?” não, não é possível.
Mas há dias, estava eu em plena hora de- filha tira lá o pé da costela que está a doer – quando me lembrei do primeiro carro que me foi roubado à mão armada, o que senti e as condiões em que aconteceu.
Meu pai preparava-se para regressar à sua terra após loooooongos anos de Maputo, quando a dois ou trés dias de eu o levar para Jhb, me dirijo a casa duma amiga para ir tomar um café e tudo se passou.
Eram nove da noite, eu tinha uns verdes 27 anos solteira e boa rapariga. Ao chegar ao estacionamento da casa da minha amiga, meto o carro de rabo, motor ligado (ainda não tínhamos celulares a funcionar) à espera que ela descesse. A seguir foram uns acontecimentos rápidos, duros, agressivos e bem reais.
O estacionamento só tinha uma saída possível, onde eu me encontrava pronta para arrancar assim que ela entrasse. Não havia muito movimento, um guarda velhote sentado à porta a guardar não sei bem o quê, uns escassos transeuntes e uma zona que ainda hoje serve de barreira entre os “têm” e os “não têm”. Eu não tinha reparado qua a minha amiga estava já em baixo à volta do 4x4 do pai dela a fazer não sei o quê.
No momento exacto em que destranco o carro, qual central locking que abre as portas todas, entra um carro escuro de frente para o meu com 4 homens cresciditos, ar de “feios, porcos e maus”, quando um entra logo para o lugar do morto e o outro, o do meu lado se aproxima de mim a passos rápidos empunhando uma não sei o quê de calibre que faz um som, que foi das poucas coisas que me ficaram na memória como trauma – o de carregar a arma. Um som gélido e que provocou a maior descarga de adrenalina que alguma vez tive em toda a minha vida. Era uma arma prateada.
Congelei e apercebi-me da seriedade do acto. É nessa altura em que a minha amiga grita pelo meu nome, não sabendo bem o que se passava e a arma até aqui virada à minha cabeça (neste momento não interessa bem onde já que ao ser disparada, morreria de certeza) e eu vejo a arma a virar-se para ela. Encontrava-se a uma distância de cerca de 20 metros. Entrou segundo pânico, vai atirar à minha amiga já que este foi um acontecimento inesperado e normalmente provoca receio ou medo nos ladrões.
Tive medo pelo primeira vez, eles não podiam atirar nela, que não tinha nada a haver com o assunto, se houvesse feridos que fosse eu. Ocorreu-me mexer na chave do carro para tentar desviar a atenção do que tinha poder naquele momento e resultou na perfeição. O rapaz esqueceu a minha amiga, agarrou-me no meu braço e arrancou-me assim mesmo do carro, para fora. Meu único ferimento – uma nódoa negra no braço dumas mãos pesadas, enormes.
Ao levantar-me do chão, olho para a minha amiga e confirmar que estava bem, mas não tinha ouvido tiro nenhum, começa neste momento o meu sangue a esfriar e as pernas a tremer.
Eles, com o carro arrancaram convictos, mais ricos. Eu, levantei-me e ainda corri atrás do carro pela estrada fora. Talvez o acto mais desesperante e de choque que podia ter.
Quando paro e apercebo-me que o carro inteiro foi, só me circulava na mente a grande sorte de não haver sangue em lado nenhum e em ninguém.
O resto da noite foi o pesar de ter que informar o sucedido a um pai, subir 11 andares duas vezes e ir à polícia para declarar o acontecido. Nada e nenhum dos segundos seguintes fizeram melhorar o sentimento de ódio.
Arrancaram-me um carro à força, mas não a vida. Foi o saber que me levaram o carro não para alimentar nenhuma criança mas sim uma rede de peças ou de venda de carros (que raio interessa???) e a estranhíssima lição aprendida – bens materiais perderam por completo o seu sentido, o seu valor.
A vulnerabilidade duma mulher neste mundo cão é muitas vezes assim lembrada. No caso dos homens penso será pior já que os ladrões não correm riscos – atiram. Não melhora.
O 2º e o 3º já foram marcados por uma frieza e experiência, muito necessária para se sair ileso. A única lição aprendida. Quais centros de apoio à vítima, traumas embrenhados mas nunca esquecidos.
Se serve de consolo para os mais descrentes, maior trauma não existe do que apanhar uma frebre tifóide. Condição que me levou uns
meses a recuperar e onde ainda hoje, passados anos se faz sentir no organismo.
sábado, janeiro 14, 2006
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1 comentário:
Olá Laura
Tentei ser o mais objectiva, mas foge-me decerto a emotividade. Foi talvez mais complicado do que aqui o digo, mas "life has to go on" :) beijinho e obrigada pelo conforto.
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