terça-feira, junho 07, 2005

N4 Maputo-Nelspruit-Johanesburgo (JHB)

Entretanto já fui a Nelspruit e voltei, entre ontem e hoje. Arranquei às 13h00, cheguei às 17h00 fui ao dentista (dente novo, vida nova e pelo meio lá tive de cancelar uma reunião deveras importante) e voltei esta manhã.

Porque interessa isto. Simples.

A N4, estrada que nos liga desde que me conheço a viajar entre Maputo e Joanesburgo, é hoje e talvez dos símbolos mais culturais e cosmopolitas que temos. Vamos aos avanços de Maputo nos últimos 11 anos (eu disse Maputo não Moçambique):

1. Cresceram como cogumelos os cafés, os bolos e pastelarias e que nos emprestam aquele cheiro a cidade, a pão fresco e ao puro ócio de tomar a cafeína (já dizia o outro que por trás de uma grande mulher estão toneladas de caféina);

2. As lojas foram devagarzinho deixando de ter grades, substituídas por luzes e decorações nunca antes vistas. Ainda hoje existem lojas com grades, claro! Zonas quentes, mas elas há até porque já temos shopping centres tá a ver?

3. A falta de gosto pelo décor passou a ser quem melhor decora e hoje praticam-se acções de marketing puras, básicas e muitas vezes não sabemos que as fazemos, mas estão lá todas. Para os que não sabem as ruas de Maputo estão apetrechadas de supermercados ambulantes, impressionante a forma como se "mostram" os vários produtos em cartolinas, sacos do Pick&Pay (cadeia sula africana), paus de vassoura e o mais incrível é o que se pode comprar assim com o estalar do dedo. Tem de tudo!!! Este assunto é meio complicado por causa do nosso mercado informal mas que é ainda hoje grande e o grande sustento de muitas famílias. Já vi tennis com o preço em euros nas mãos de putos com 15 anos.

4. Como os cafés, nasceram os centros: shoprite, centro polana shopping, game, mica e o já conhecido Delta trading. Vai nascer e para os que conhecem a baixa de LM, ali mesmo perto do porto um monstro dum centro comercial com 9 salas de cinemas, muitas lojas, hotel....não dá para acreditar. Mercado parado e construimos para o consumo. O que é que eu não sei??

5. A nossa querida N4 e dela nasceram pelos menos duas portagens, uma em Maputo (que por sinal é a maior de África!!!) a 14.500,00Mts ($0,60) e a de Moamba mais cara e muito mais pequena a 77.000,00Mts ($3,20 uma pipa de massa) e a última já na África do Sul a 32,00Zar($5,3). Isto só para chegarmos a Nelspruit. Fazemos 200kms de Maputo a Nelspruit e gastamos $10 só com uma ida. Fora comidas, gasolina, estadias, compras etc.

6. O mais importante: acabaram os vistos entre Moçambique e África do Sul, aquela passagem por Ressano deixou de ser elitizada. Tem sido interessante ver as pessoas a aprenderem as voltas, papeladas e regras duma fronteira. Passo a informação que a Swazilândia também já aboliu.

O cerne desta estória: a N4 abriu sem dúvida para o desenvolvimento. Estima-se uma circulação de viaturas na portagem de Maputo (Matola-Maputo-África do Sul) cerca de 30.000 viaturas por dia!!! Quem conhece esta cidade sabe que isso é monstro.

O bonito desta estória: o cenário do lado da África do Sul é lindíssimo e muitíssimo variado, da fronteiro do Lebombo a Neslpruit passamos por: cultivo de banana, cana de açucar, citrinos, Kruger Park, quintas ou farmeiros e agora o muito recente aeroporto do Kruger um edifício lindíssimo e internacional. Do lado de cá, Ressano Garcia para Maputo, passamos por micaias, uma planície interminável de horizonte a vislumbrar o melhor e pior negócio que aqui foi feito a Mozal, tudo já com cerca a anunciar a construção de sei lá tudo. Na última curva antes de chegar a Ressano parece estar a nascer um hotel tipo Town Lodge. Isto para dizer que os vizinhos boers aqui do lado conseguiram manter o desenvolvimento e o selvagem harmonioso, vamos ver se nós deste lado conseguimos. De Ressano a Maputo já tem um tubo para gás canalizado......isto para quem conhece sabe o que quer dizer.

O estranho desta estória: os neslpruiteiros dão-se bem com os maputenses. incrivel. Parece que fazemos parte da mesma panela. Já é tão comum ver matrículas de cá e de lá, cá ou lá que os polícias já nem ligam, a não ser aos que pisam o acelerador.

O hábito adquirido: é comum na estrada o carro da frente se tiver uma marcha inferior à nossa, enconstar e deixar passar (esta nem em Portugal vi em 12 anos) isto na África do Sul, e nós os de cá parece que aderimos a esta simpatia. Passamos, agradecemos a ligar os 4 piscas e o carro passado retribui com o acender das luzes. Very nice. Mas claro que há os nabos ali do lado de Durban que nem por isso, ou os de JHB ou Gautengalengers como chamamos com imenso carinho. São mais agressivos.

O referencial histórico: nós aqui de Maputo arrancamos assim sem mais nem menos, para fazer 200kms para Nelspruit ou 600kms para JHB num fim de semana.

O negativo desta estória: importamos a insegurança. Eu explico: quando se rouba um carro aqui à mão armada, o ladrão informa-nos que nos vai levar o carro, do lado da SA (South Africa) é um pouco diferente, primeiro dão o tiro e nem sequer nos dizem o que pretendem. Não há direito. Mas atenção aqui também pode acontecer levar o tiro como foi o caso semana passada duma Russa, mas o problema é a resistência. Isso é que não aquenta o ladrão deste lado.

O cultural desta estória: este caminho Maputo-Nelspruit é recheado de cenários agrícolas, selvagens, de cidade, de horizonte e de estórias. Boas e más. Mas importa referir que a estrada foi alargada e isso melhorou a segurança. O último troço de 30kms antes de Nelspruit é lindíssimo, espectacular em termos paisagísticos, montanhoso cheio de menires naturais (acho que Óbelix passou por àfrica e ninguém sabe) e por sinal o menos seguro.

Isto para dizer que uma simples estrada, para mim tem um significado histórico e de estória muito importante. E nem toquei no caminho Nelspruit-JHB. É outro filme. Foi onde vi pela primeira vez na minha vida autoestradas de betão esbranquiçadas, intermináveis, com montes de faixas. Quando a Portugal cheguei em 1983 tive aquela sensação de andar para trás.

8 comentários:

babalazado disse...

Já se dizia das matrículas GP (Gauteng Province) que mais valia significarem "Gangsters Paradise".
Só uma pergunta, a portagem de Maputo de certeza que é a maior portagem de África?!?
Custa-me um pouco a crer.
Com tantos países africanos muito mais desenvolvidos, e com muito melhores infra-estruturas que nós (verdadeiras auto-estradas, e não uma N4 a que nós erradamente chamamos de auto-estrada), e nós é que temos a maior portagem de África? Duvido um pouco.
abraço e hambanine

Passada disse...

Olá babalazado. A esta hora uma ventania aqui no 16 andar que não lembra.
Em relação à maior portagem é o que afirmam os donos da gestão da N4, pessoalmente não poderei confirmar claro. Também sei que temos o maior oudoor de África em cima do prédio 33 andares.
Agora a autoestrada per si e mesmo na África do Sul só começa depois do tunnel a uns 30/40kms de Nelspruit. Até lá não tem características de autoestradas mas para nós que a utilizamos tem o espaço equivalente a 4 faixas, com 2 desenhadas o que quer dizer uma verdadeira pista com segurança. Lembra-te da circulação de carros sem luzes etc. Há 11 anos esse caminho era recheado de verdadeiras crateras até à curva do perigo, capim altíssimo e 2 faixas muito magrinhas. Dangerous.
África não tem países MUITO mais desenvolvidos que esta cidade. Escapa a SA. Angola em breve talvez mas Maputo continua a ser a "Suiça" de África. A pérola do Índico. Um bom dia para ti

Pitucha disse...

Comecei por sonhar, depois desejar, a seguir invejar para terminar de novo a sonhar!
Talvez um dia faça esse caminho...
Um grande beijo passada e obrigada pelos teus posts: fazem bem!

Passada disse...

Olá Pituxa, obrigada. É costume eu dizer que para se aguentar África é preciso ter-se a paixão. Daquela verdadeira e talvez por isso hajam estórias dignas de filmes. A Russa qua aqui falo morreu ao volante de um Volvo.

babalazado disse...

"África não tem países MUITO mais desenvolvidos que esta cidade"

Olás para todos. Se me permites, discordo desta tua afirmação.
Só se te estás a referir somente à chamada "África Negra", excluindo os países lá de cima. E mesmo assim, continuamos com muito que se lhe diga.
Um monstro como a Nigéria, por exemplo, deixa qualquer Moçambique para trás. Tanto para o bom, como para o mal.
Cidades como Abuja e Lagos metem Maputo no bolso.
Bem como as Nairobis, Addis Abeba, Dar-es-Salam etc. Cidades que não sofreram uma estagnação de décadas devido a conflitos militares.
Isso já para não falar duma Cairo, que então nem se compara.
Agora em termos de beleza, Maputo é sem dúvida das cidades mais lindas de África.
hambanine

Passada disse...

Olá Babalazado. A tua discórdia, melhorou o tema. Fui clara quando disse MUITO mais desenvolvidos, assumi assim que temos ainda muito terreno por cobrir. África Negra, yes, seria melhor compararmos na mesma plataforma, não? Agora, e apesar de ser uma natural de Angola e poder rebater a beleza, terei de concordar por achar Maputo das mais bonitas que conheci até agora. Mas África está cheia, cheia de países falta conhecer tudo.
Mas posso também dar-te um exemplo, a minha revista é impressa aqui com tecnologia digital, só na SA e brevemente em Angola é que terá essa mesma tecnologia. Até lá passaportes e vistos da Angola e Cabo Verde s enão me engano são impressos aqui mesmo! Noutras áreas, sim estamos mal, muito mal mesmo. Outro exemplo, temos talvez e segundo uma revista "FREE PRESS", dos países onde a liberdade de expressão é uma realidade em comparação a outros países africanos. Não desesperai, lá chegaremos. Sou mesmo apaixonada por isto, dá para ver.
Fica bem.

Passada disse...

Olá Miguel, squeci de mencionar o pormenor da data em que AS me provocou a sensação de modernismo, falava de 1978/9.
Abraço de Angola, então vem da minha terra natal.
Obrigada pela visita e que guardes sempre estas preciosas recordações e vivências de África num baú especial.

Unknown disse...

Nao vamos comparar Moz ou Maputo com Johannesburg ou Gauteng province

Ainda tamos longe de ser Como a south Africa"South Africa e um país perdido na Africa"