terça-feira, fevereiro 08, 2005

Paul Kruger, homem com visão.

Isto leva-me a outro ponto.

O nosso comportamento dentro destas reservas. É corriqueiro ouvir dizer "Ah, no Kruger não há problema porque os animais estão habituados! Essa pode ser sem dúvida uma verdade, tão grande quanto a natureza destes bichos. Anything can go wrong.

É comum o erro com os elefantes, quais monstros de peso pesado com algumas toneladas (para quem quiser ter um em casa tem de preparar um dieta com cerca de 300kgs / dia), mamíferos e que normalmente andam em manadas.

Diz o outro "É pá, que giro está a abanar as orelhas, agora levanta a tromba..." se eu fosse esse personagem tirado de um livro de fantasias, corria, mas corria dali para fora e rezava para que o elefante não tivesse vontade de vir atrás.

O mesmo com o rinoceronte, mas principalmente com o hipopótamo. Estes normalmente estarão dentro de água, mas se por acaso estiver atrás, ali do arbustro e não o vimos antes teremos de estar preparados para uma investida deles no carro. Quando o hipopótamos abre aquela bocarra gigante e mostra aqueles dois dentinhos fofos, ele está a dizer "Oh meu sai daqui que quem manda aqui sou eu". Mas elas há, as pessoas claro que por força da excitação e muitas vezes ignorância, desconhecem o comportamento dos animais no seu meio. Depos apanham surpesas.

Houve um pequeno episódio, já há muitos anos, com elefantes no parque da Gorongosa, aqui em Moçambique, lá no Norte. Imagine-se o carro, um mini morris, por lá se foi aventurar, e estes elefantes não têm o "hábito" de ver carros, lá achou que devia espezinhar o carrito e as pessoas (itas).

E casos, para os amantes destas coisas (como é o meu caso), há muitos mais que não dará para aqui relatar, por serem muitos.

Mas onde eu quero chegar, porque ok, agora assumo que quero ainda nadar perto de um great white (uma grande e já longa paixão), é que quando eu estiver a interagir com animais com a capacidade de me triturarem e ainda terem achado pouco, eu vou primeiro aprender um pouco sobre estes e acima de tudo comportar-me de acordo com essas regras.

A velha mania(zinha) paternalista que temos de dar comida aos animais, além de absurda, desestabiliza com a cadeia alimentar normal desse animal que estamos a alimentar (e normalmente são com pacotes de batata frita etc), provoca alterações gástricas ao animal e por vezes até, sei lá virar-se contra nõs por essa razão. A exemplo os corvos e aqui o meu querido pai irá concordar comigo. É natural que os corvos na Ilha da Inhaca, roubem sacos de plástico (eles sabem que os humanos lá guardam comida).

O parque dos elefantes, aqui mesmo pertinho de Maputo, a caminho da Ponta do Ouro, tem naturalmente elefantes, comunidade que tem vindo a crescer pelas chuvas que tem havido, a menor fome humana e a protecção deles. Esta lindíssima espécie animal e neste caso, nem sequer temo hábito de ver carros por perto. É preciso ter precaução redobrada.

Assim, para quem daí vier e nunca teve o contacto com esta maravilha que são os animais no seu habitat, LEIAM as condições de circulação (não fumar, nem deitar beatas, não abrir a porta, nem a janela, não tentar estabelecer um laço carinhoso com um leão, não subestimar a natureza...não buzinar, credo NÃO buzinar perto dum elefante, a natureza é silenciosa muito), elas estão lá para proteger. NÃO trocar um pneu que furou, é preciso chamar o ranger para proteger as costas (é que os felinos atacam com uma velocidade por detrás dum arbustro que não dá para nada e sair das garras dum felino, só com muita sorte...) e por fim talvez a melhor defesa é o conhecimento sobre o comportamento animal. Seja ele qual fôr. Nem, mas nem pensar em parar para fazer um xixizito (cobras ADORAM o ácido da urina e os leões ADORAM carne), na berma.

Por outro lado e se houver uma postura correcta, a possibilidade que estes parques nos dão de estar por perto dos animais, a experiência não só é enriquecedora, mas fabulosa. Especialmente para os amantes da natureza, como é o meu caso. Nada mais gratificante e humilde do que ver um rinoceronte com aquele ar dinossaúrico ou os olhos de mel dum leão, as listas duma zebra, o saltar duma impala parece que têm tranpolins nos cascos, o andar dócil dum elefante o seu olhar, meu deus o seu olhar é do mais maternal que até hoje vi, a sua imponência, os cães selvagens que neste momento se encontram em extinção (no Kruger existe uma comunidade de 350 apenas e com programas de protecção e aumento já há uns anos), o tamanhão das girafas o animal mais elegante do reino a proteger uma cria com as suas pernas, os javalis que sempre fazem lembrar Obélix, a cheetah o tal que mais corre (só existem 200 no kruger). Posso continuar....

Aliás, históricamente o parque do Kruger nasce precisamente por causa do declínio do reino animal. Na altura 1898 o Sr. Paul Kruger inicia esta maravilha com o Sabi Game Reserve (Sabi é no sul do kruger onde passamos e vimos os leõzitos) e por volta de 1905 a área desta reserva era de 17.000 metros quadrados e tinham apenas uma equipa de 15 pessoas a proteger os animais da caça ilegal. Só em 1926 é que o Kruger nasce com o formato que hoje conhecemos através da fusão entre as quintas Sabi e Shingwedzi.

O grande impulsionador depois do Paul Kruger foi o Stevenson Hamilton que inicia a suia actividade em 1902 e faleceu em 1957 e as suas cinzas foram espalhadas pela zona do Skukuza. Em 1959 começa a dura tarefa de circundar o Kruger com arame para os seus 18 000 metros quadrados. Em 1999 o Kruger regista um lucro de 200 milhões de randes.

Hoje encontram-se 3 parques de 3 países a favor destes animais: Zimbabwe com o Gonarezhou National Park, África do Sul com o Kruger Park e Moçambique com o Limpopo National Park (2002). Ligaram-se e os animais já circulam. Esforços estão a ser feitos no sentido de ser projectar o eco-turismo de modo a proteger esta já enorme área, mas na junção destes 3 parques não existe ainda infraestrutura de apoio e visita. Impossível para já.

Resta-me desejar a todos quanto tenham possibilidade de visitar esta grande quinta cheia de animais lindos, que o façam tipo "100 coisas para fazer antes de morrer", sempre se morre mais rico de espírito, quiça mais humano. No fundo é o que nós somos apenas.

Não é possível passar nesta vida sem viver de perto o equilíbrio que existe no reino animal, a brutalidade, o amor e companheirismo.

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