terça-feira, fevereiro 15, 2005

11 anos de Maputo

Estou quase a fazer 11 anos desde que voltei a Maputo. Vim de Lisboa, depois de 12 anos por lá ou aí. Quando aqui cheguei Maputo estava um pouco como a deixei, uns anos antes.

Muitas grades pelas casas, com uma profunda falta de pintura, lojas vazias de produto e de gentes, poucos carros, o bairro inn era (digo era porque já foi claramente ultrapassado por outro, o que está perto da Universidade E. Mondlane), menos chapas e tchovas xitadumas, as acácias, pouquíssimos restaurantes, os abastecimentos ainda feitos fora (em Neslpruit para quem podia), os barcos a partir do Naval ainda funcionavam, os mercados também, almoçaradas em casa de amigos, os vídeos cadongados de telenovelas (mas nesta altura os filmes ainda eram a sede de cultura, hoje falamos de telenovelas todas muitas), a imprensa era escassa, frágil e politizada (ainda hoje é), consultas médicas em JHB porque nem Nelspruit tinha ainda crescido com os nossos dólares (na altura valiam a saber), o Xenon com piolhos ainda, teatro persistente da Manuela Soeiro e nem se falava no turismo interno. As empresas eram as que são hoje, mudam-se nomes,sócios e privatizações. O artesanato pesado e com restos de rostos de uma guerra.

Esta descrição pode continuar indefinidamente, porque não tudo, mas muito mudou nestes 11 anos.

Fui a Lisboa nestes anos cerca de 5 ou 6 vezes, nem sei. Não foram muitas, as saudades ou a falta de Lisboa não era.

E nestes 11 anos Maputo, apesar de manter como que por puro saudosismo alguns problemas crónicos como os buracos nas estradas, uma organização urbana antigo, a passividade do sector público, mas fora alguns pontos neste momento apontáveis por dedos das mãos (lembro que comparao Maputo de 2005 a Maputo de 1994), Maputo cresceu e rebentou pelas costuras a muitos níveis.

Ontem não podíamos ter as duas nacionalidades - Portuguesa e Moçambicana, apesar de meio mundo aqui a ter - hoje por despacho será possível por lei termos as duas.

Os carros, talvez o símbolo mais evidente para quem voltou para cá em 1994, abundam como abelhas e NÃO ESTAMOS A CABER TODOS. As lojas, com luz, produtos e sem grades. Credo, se alguma vez eu pensaria, apesar de ainda as vermos por aí. Sim ainda se rouba, claro o fosso entre o tem e o não tem, é grande. A oferta no consumismo é hoje grande, em comparação sempre, ao daquele tempo. Hoje as futuras ex damas que pensavam que iriam ter maridos de pastas dão-se ao luxo de encomendar fatos channel 48 horas antes da tomada de posse. Ou entrar na Ikaya vulgo Ikeia com produtos da suécia comprados em Espanha, ou até um Armani, camisa não por menos de 7 milhões de meticais no Polana Shopping. Um centro comercial, muito pequenino para quem gosta do Vasco da Gama (meu caso), com apartamentos de luxo e preços de luxo.

Cafés, não temos um, temos vários. Com boas bicas e lá volto eu ao meu vício lisboeta de cafeína, mas o calor que aqui temos permite uma drástica redução da quantidade. Simplesmente impossível.

Os supermercados, aumentaram, melhoraram temos um que já aqui falei o Super Marés á boca do mar, a caminho do Costa do Sol e que não fica nada a dever a nenhum dos que conheci na Europa, apenas mais pequeno e com praia à frente.

A construção explodiu, para quem conhece o Caracol, subida que vai dar à Frederic Engels, é hoje um condomínio, desenhado pelo Forjaz, explorada pela nossa Graça Machel. Tipo triplex. Ou o novo bairro chique da universidade, quais mansões tipo Miami, monstros habitados impressionantes.

Já aqui falei também na noite Maputense, muito cosmopolita. Abriu mais um bar o "Sinatra", mais para os da minha idade creio (ainda não lá fui ver mas já me deram a dica), o Coconuts sofisticado o Mambos com a sua música Cubana, organizada por um Cubano.

Maputo está a fervilhar meus senhores e senhoras e aqui permitam-me que aquilo que sonhei aos 24 anos de idade, estou a tê-lo, a vivê-lo com os dentes todos que tenho.

Experiências e momentos daqui são muitos e muito especiais. Nunca mais me esquecerei, duma vinda do meu Pai, à outra terra dele, fui buscá-lo ao aeroporto e na volta, antes de chegar a casa, vemos mesmo à nossa frente um acidente fenomenal, espetacular. Um dos carros passou sem parar o sinal vermelho, o outro apanhou com ele. Maputo continua a ter momentos dramáticos tropicais característicos, mas... os sinais não funcionam lá muito bem.

Faltará tocar no ponto sensível. O meio social. Este é ainda complicado. Ficará para uma outra altura de maior inspiração para melhor tratar as palavras.

O que continua sem peso nem remorso, foi a decisão de aqui ter voltado, para uma terra que não era minha, mas passou a ser. O que continua a existir é esta paixão por esta cidade e sua beleza. O tanto por descobrir por esta terra imensa.

6 comentários:

Madalena disse...

Obrigada Passadita querida por me ofereceres o retrato da cidade onde vive a minha infância e a minha adolescência, as minhas ilusões e os meus sonhos...
LM será sempre uma raíz!

Nelson Reprezas disse...

Tinha duas opções: - ou não comentava ou comentava, correndo o risco de aqui deixar um lençol. Há ambivalências que não sei se são boas ou más. São, simplesmente. Mas há perigos... Maputo instila em todos algumas noções que estao muiiiiiiito longe de realidades que não podemos nem devemos ignorar. You know uoraimine...
:)

None disse...

Estive em Maputo em Novembro passado e foi tudo isso que encontrei; já muito diferente da cidade que deixei há 12 anos (que diferença!); só o calor é o mesmo; por isso gostei de ler, o que eu própria senti e constatei; e também digo que, ou escrevo um testamento ou fico-me por aqui esperando a continuação do texto.
Um dia apareço outra vez, espero.

BlueShell disse...

Confesso que não li o texto com muita atençaõ...
Sim, estou a atravessar um mau bocado...mas não quero deixar transparecer isso no meu blog... jinho, BShell

Passada disse...

Mada: é possível sim ter mais do que uma raíz, sou prova viva disso.

Espumante:Somente falei no desenvolvimento da cidade de Maputo. Que houve.

L: Fico contente por confirmares a minha impressão.

Blueshell: esses cobertores ainda estão postos? Troca por um endredon...

A todos: beijos maputenses

J.G. disse...

E não há por aí umas fotas dessa partes novas da cidade? Gosta de comparar com as minhas fotografias visuais. TKS