terça-feira, dezembro 21, 2004

Crianças, flores que nunca murcham.

E quando murcham, morrem. Não, não me atrasei no regresso daquela que é a terra natal da minha irmã, JHB. Mas marcou-nos dois acontecimentos que me fizeram calar, à boa maneira respeitar o silêncio destas ocasiões. Sentir, apenas a dor do perder uma flor que deus decidiu dar 10 anos de vida e levá-la. Cheia de vida, uma menina que lhe doeu a garganta e no seu acordar pede leite para beber e foi o seu último golo de vida, como que a dizer à mãe da sua origem de mama. Estou arrepiada, profundamente revoltada porque e ao que parece a meningite foi a sua dama de morte e implacável a FDP (não queiram que traduza) da bactéria leva uma flor que espalhava um sorriso lindo cheio de vida. Fico revoltada porque já não se morre deste mal, mas o conhecimento popular julgou a dor de garganta e tratou as anginas. Estou revoltada e revirada porque sofro em silêncio a dor da mãe, que meus caros é indescritível. Devia ser proibido uma mãe ou um pai perder um filho, por lei. Enterros, capelas, flores e peluches vão acompanhar esta flor para a sua última morada e eu cá fico a gerir esta dor tão desconhecida, tão agressiva e tão pacífica. Foi ontem que ao acordar tive de lidar com a morte mais do que injusta duma pequenina, dum ser humano. Estremeci só de pensar que afinal posso perder o meu mano a minha mana, pessoas que são tudo na minha vida e que se tal me acontecer ficarei coxa, vazia das suas vidas. Vidas que me dão vida a mim. Fui à florista fazer um ramo cheio de cor, cheio de vida e sabor, cheiro e respeito por tão tenra idade, assolou-me o pensamento de todas as crianças deste mundo que ficam crianças sem nunca terem desabrochado. A lágrima que corre é um misto estranho de sentimentos, mas sobressai aquele da paz que ela agora encontrou. Vermelho, amarelo, branco, rosa e laranja com verde fundo e nada a traz de volta. Irei vestir branco para o funeral pela inocência de ter visto o esvaziar duma vida. Será esta tarde. O outro acontecimento foi mesmo no dia da chegada, e como a minha varanda tem o previlégio de ver a baixa toda de Maputo, eram 23h00 da noite de domingo, quando fui fumar um cigarro e deparar com fogo, qual cidade de tróia a arder, mas não de guerra nem confronto apenas de parvoice na reabilitação de um restaurante. Palha, chaminé e calor dá resultados churrascados. Ardeu o antigo Palma Dourada. Cenário interessante porque houve tempo para se retirar as mobílias, miudos ali sempre à mão, que no fim serviram-se de coca-colas e o polícia mandou-os parar porque estavam a "roubar" ao que e muito inteligentemente responderam ao mesmo "sr. polícia, quer que as mobílias queimem?". Nada mais descreverei porque este fogo apocalíptico anunciou o fim da vida duma menina que se chamava Taiz. E ela voltou à raiz.

2 comentários:

Madalena disse...

O meu coração entende o teu. Quando a minha priminha foi levada pela malária senti o mesmo que tu. Uma dor muito sem sentido, até porque parece que não temos direito pleno a essa dor. O direito pleno, esse é dos pais.
Passaram quase quatro anos e o nome da pequenina fica sempre no caminho do nome da outra menina, da irmã. São muitas as vezes que nos enganamos. Não é por gostarmos mais de uma do que da outra. Deve ser a recusa por sarar.Beijinhos para ti

Passada disse...

Olá Madalena, de novo as tuas palavras de carinho. Ao que parece a pequena padeceu de febre tifóide, sem sabermos bem dado que metade da família é muçulmana e não permite autópsias. Mas pelo risco de meningite fui falar com uma médica, descrever sintomas e "parece" a tal de tifóide. Miudagem que teve contacto com a pequena vai tomar a dose para a meningite. A dor essa, a tal da mãe que fica acordada mesmo tendo levado injecções para acalmar e dormir se manteve de pé até que o caixão batesse o fundo. Beijinhos