domingo, janeiro 30, 2005

Cheira Bem, cheira a Lisboa I

Estes posts que irei a seguir escrever, darão conta das características típicas de Lisboa e que para uma africana que nem eu, marcaram para o bem e para o mal.

Logo de início:
1. credo, o briole que me entranhou pela espinha e nariz
2. chuva fria e ventosa, dias cinzentos e meu deus muitos e longos dias
3. 9 meses de frio, 3 meses de calor o oposto ao hábito
4. demasiado tempo fechada dentro de casa por causa do frio
5. ainda no frio, andar de autocarro com as janelas todas fechadas e ouvir insultos depois de as abrir
6. as conversas de autocarro: doença, falta de dinheiro, o filho da "outra" que virou toxicodependente, a mulher do "outro" que não veio a casa, prozac e a eterna depressão lusa
7. entrar uma grávida ou pessoa de 3ª idade e ninguém dar o lugar até ao motorista o pedir por elas e a eterna paciência dos condutores da carris, agressivos, bons condutores, e com raros sorrisos
8. ouvir insultar a mãe desta, daquela e do outro: aprendi a asneirar a sério (não posso imaginar o baque que teria sido se tivesse entrado no porto directo de áfrica)
9. a caminho da escola, na paragem do autocarro ou a ver uma montra ouvir piropos directos, com olhares directos e palavras directas
10. ser apalpada no metro e eu achar isso uma profunda violação ao meu espaço e integridade.

Amanhã mais 10 boa noite e até amanhã.

sábado, janeiro 29, 2005

Disseste o quê?

Foi assim que uma empregada me respondeu, depois de eu ter pedido o Casal Garcia para acompanhar os camarões.

Não se leva a mal e depois de tantos anos em Lisboa com Xô Dr, xô Eng., até sabe bem dirigir as intenções e desejos na primeira pessoa do singular sem que seja sentida ou imposta a falta de respeito.

Quem sabe se ela não é filha do Gungunhana?

... e depois estavam uns drásticos 33 graus às 22h00 no Costa do Sol. Não, não é para fazer inveja, eu estava com ambas as mãos enfiadas no frapé do gelo, juntamente com a garrafa.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Dad, esta pa ti

Rain drops

A ti Madalena agradeço-te a lembrança.

Sou filha de guerra.

E de Angola, talvez por causa do percurso dela, a guerra, toda a minha vida daí para a frente tenha tomado não só em percurso mas em importância contornos fenomenais. Eu era muito pequena. E permitam-me a viagem. Tem sido longa.

The recollection of it are as if like photos of a war that was not mine. So young, not knowing anything else but hiding, switching of the living room lights, the scare and insecure fear of the dark alongside the noise of gunfire or bombing, rockets fluying over in the sky.

Os curtíssimos 4 anos em que vivi, naquela que é a minha terra natal marcaram para sempre toda a minha vida. A instabilidade criada nas pessoas, os adultos. As razões dessa guerra, que deus nos absolva de tanto atraso mental (não sei classificar guerra de outra maneira e se formos a ver os reis e os donos das guerras têm sempre um ego do tamanho do universo motivados tantas vezes por pequenez...), ao que me lembro era a justificada independência de Angola, qual filha saída de um ventre que nunca foi-Portugal. Que raio, mas eu sou portuguesa!!! A confusão inicia o seu percurso aí mesmo. E eu não fiz mal a ninguém!

Don´t do this, don´t say that, don´t go outside now, not now. But why, I was never, ever told that it was a war going on. The flags in the car, the extreme expressions marked in my soul as if I had to have 20 or so years old. I grew without knowing I had grown. There are some eyes that don´t seem to leave my soul and live alongside myself as if they were mine.

A primeira entrada em portugal e a rápida saída também devolve-me a memória involuntária duma não aceitação de portugueses (que apesar de terem saído de portugal e foram parar a áfrica por cumprimento de serviço militar...need I say more? ou outro se quisermos voltar mais lá atrás na história), por portugueses "ultramarinos", ou brancos de segunda ou portugueses que não são bem portugueses. Só o português saberia dar um significante a um nacionalidade com tantos significados. Sem no entanto nada significar. Vim a saber depois de crescida e voltar a Portugal que seria por receio a "estes" portugueses virem retirar empregos e etc e tal. Ya!

I will never forget the way out of Angola, at the airport. Nothing to eat or drink, a plane ticket to go, at the time I had no idea what the hell was going on, but the confusion told me that something was going on. We had to leave. And I do remember the fact that I did not understand why we had to leave. That and playing with my moms cigarretes. yes I do smoke today. I had lost my country for the next 30 years. Because I am portuguese.

in "curtas memórias sentidas e lembradas ao som do comboio na celebração dos 60 anos da libertação de Auschwitz na CNN"

Até deu télélés

Não é que eu tenha visto muitos, ao vivo e do pouco que tenho visto o futebol português irrita-me sempre porque é creativo e muitas vezes não eficaz. Estamos neste momento à espera (digo estamos porque devemos ser uns milhares agarrados à tube a cores) dos penalties. Mas preciso de dizer, foi dos melhor jogos que tenho visto, umexcelente formato competitivo, agressivo, bonito e cheio, cheio de golos de primeira. O nível quase se perdeu com o excessivo teatro do benfiquista e consequente expulsão do sportinguista e claro os objectos atirados ao campo, deste vez um ou dois celulares (coisa barata). Porque de resto este foi um jogo digno de ser visto e pela primeira vez senti uma enorme vontade de estar lá, no meio a gritar pelo meu sporting. Nota dez e desculpem-me o clubismo, para o Paíto que mais parecia um cavalo, atropelando sem deixar cair dois do benfica, frangueou o Luisão que não estava de olhão e executou um belíssimo golo. É preciso conhecer Moçambicano, foi tipo "estes gajos nunca mais se resolvem, aqui vou eu". Alto espectáculo, assim sim. Que o meu sporting ganhe!

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Passo-me!

Hoje um mês que a Tsunami da Ásia leva consigo 280 mil vidas, hoje 60 anos que o homem mais maqueavélico que Maqueavel aniquilou milhões de pessoas. Era viciado num cocktail de "energia", profundamente doente Hitler marcou este mundo pela brutalidade, frieza e calculismo da sua limpeza étnica. Apelamos para a tolerância, a fraternidade, a compaixão mas assumo que existem casos sociais que merecem a pena de morte. Hitler seria um sério candidato a ela. Pouco ou nada se fala na 2ª GGM (Grande Guerra Mundial), por razões que eu compreendo, mas quando vejo homens e mulheres que ao fim de 50 anos continua a deixar cair a lágrima ao lembrar-se do que passou e viu passar, a sequela mental dos atos deste homem horrendo dá vontade de perder toda a tolerância e fazer algumas asneiras. Pena é que já esteja morto...

Tenho o maior respeito e consideração por todos aqueles que sobrevivem a uma guerra, seja ela qual for e entendo as razões pelas quais muitos não quererão falar ou partilhar o que viveram e sentiram no meio dela. Será que não dava mesmo para acabar com esta treta de nos matar-mos uns aos outros?

Com isto e porque o presidente Americano mesmo a "proteger" todo o seu negócio, afundar aquele império consegue ser re-eleito? Leva-me a querer que o Santana Lopes vai fazer a mesma proeza em Portugal. Não se surpreendam.

Hoje é dia para lembrar a nossa história e perceber o que foi feito, como foi feito e para quê foi feito. Seria um absurdo pensar num novo Hitler a querer limpar etnicamente (apesar de hoje acontecer aqui em África com o Rhuanda, Burundi e até nos Zulus) a raça humana, e vermos a hostória (holocausto+história)a repetir-se. Quem é que nos garante que não acontece, mesmo?

Antes de ter estudado a História na escola, iniciei-me neste assunto com o clássico "Diário de Ann Frank" que por sinal foi responsável pela minha curiosidade histórica. A ela devo-lhe o meu interesse. Um catraia de respeito.

Que todos os pais e mães tenham a coragem de saber levar os seus rebentos pela história vergonhosa que muitas vezes nos caracteriza e que dela saibam aprender a ser tolerantes.

terça-feira, janeiro 25, 2005

É....

que o Sporting anda a ganhar Yes, YES, YES, yes

Pois

Esta coisa não anda a up-loadar!!!! Anda por aí muito mundo a bloggar.

domingo, janeiro 23, 2005

Tempestades Maputenses

Já faz uns dois dias que Maputo anda com "aquelas" tempestades próprias e transportou-me para um tempo de Maputo já longe das nossas próprias memórias. Prédio da TVM, 13 andar e a vista que tínhamos era desta baía lindíssima. Era norma ou "habitué" em dias de tempestade irmos para a varanda saborear o espéctaculo impressionante das tempestades em Maputo. Além de serem calientes, o espectáculo visual, gráfico é algo indescritível. Como explicar a aguarela que ainda não foi pintada pou o pastel cores púrpuras, veladas a difundirem nos cinzentos, os quentes a desaparecer com o sol e a noite a querer entrar num manto de céu que mais parece tirado do Mad Max II? Como explicar a força e imponência da trovoada relampejada cheia de luz intensamente electrificante que começa numa ponta da Catembe e acaba no porto da Mozal, sem pestanejo? Como explicar tanta beleza? Por pintar? Por escrever ou fotografar? Como explicar o peso húmido nas nossas roupas, agarradas que só o algodão puro sedoso sabe bem e ao sairmos do cinema às 23h não termos vontade de ir para casa porque o dia não acabou? Como explicar a transformação das pessoas com a chuva? Como explicar a paixão que tenho por toda a força que a natureza me mostra com uma simples tempestade. O pronúncio da malária é tão certo como as centenas de pessoas que irão morrer com ela. Aí, são as ovelhas que vão morrendo por seca à espera que "um" novo governo lhes dite um melhor Alentejo. Como explicar o governo que nos governa?

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Sabedoria vem do Mar

Do tanto por que vivi, poucas coisas me marcaram ou impressionaram tão profundamente como o mar. Foi no mar que estranhamente, dado que era um pouco jovem, aprendi a estar comigo mesma, não só pelos mergulhos aceitando o silêncio aquático misturado com bolhas de ar, incrivél é ver uma enormidade de vida diversa, dispersa, numerosa, como também pelas intermináveis viagens feitas da baía de Maputo à Ilha da Inhaca. Espaço geográfico que nos restava na altura para algum gozo e não mentiremos, de onde extraíamos o ferro, pelo peixe do mar. Pescar ao corrico tanto servia de desporto como para termos peixe no congelador, fresco e muitas vezes abundante. Até os cães gozavam do menu, se a memória não me falha adoravam as entranhas cruas, qual sushi canino. Foi no mar que aprendi a ser paciente e tolerante, o acto de pescar podia levar horas até ouvirmos aquele zumbido do carreto, maravilhoso, mágico, misterioso sem nunca sabermos o que lá vinha. Eu fantasiava sempre por um tubarão, pela paixão que tenho por este animal específico. Eram horas por vezes, mais vento menos vento e antes de se ter um aparelho que nos indicava os cardumes, as gaivotas serviam perfeitamente, a andar atrás do pitéu, mais comumente chamado peixe. Todo aquele ritual também me mostrou que estar no mar, pescar e não ser pescado tinha regras de muitga disciplina, conhecimento e experiência. Existe uma que sempre funcionou nas praias, "nunca virar as costas ao mar", mas quando se está lá metido, sem terra à vista ou com terra, que costas podíamos nós proteger? Assim o mar também me mostrou respeito (neste caso muito respeito, tentarei não vos cansar com experiências vividas propriamente) porque tíinhamos de nos valer sem ter costas e sabermos estar constantemente de "costas" para o mar, o que me leva ao próximo ensinamento. Controlar o medo ou o receio, o mar para o bom e para o mau (na terra é tão diferente) ensinou-me a ser destemida, solta e confiante. Sim tudo isto pelo mar. Por outro lado, foi também o mar que me presenteou com beleza. Já passei por montanhas, lagos, zonas desérticas, rochosas (falta-me o grand canyon) e florestais, mas em nenhum deles tenha gasto tanto tempo para apreciar a paisagem como o tempo que estive no mar. O mar fornece talvez das paisagens mais dislumbrantes e equilibradas que até hoje conheci. O mar zanga-se e a sério, nessas alturas a resignação à condição de ser humano, mamíferos que somos temos de saber que a sobrevivência é a única forma de nos mantermos a respirar e assim dar-mos espaço à esperança, preserverança e fé. É preciso rezar muito quando nos encontramos em situação frágil no mar, ele engole-nos impiedosamente. Por ser fêmea estive sempre numa posição um pouco desvantajada, mas também aqui penso tenha tido a sorte de ter tido um pai que é aventureiro qb., e por esta razão foi-me possibilitada a experiência do mar: pesca, sair com a rapaziada e quase sempre sentada na prôa enquanto os homens lá atrás falavam, riam e bebiam o café quentinho (não imaginam como sabe bem, no mar ficamos sempre com sede de água e açucar),partilhei nesses momentos a amizade. De novo, quando estamos no mar e ele nos rodeia por todos os lados, existe um sensação de proximidade humana natural. Valemos por aquilo que somos e pela capacidade que temos para a situação em que nos encontraremos, caso o vento mude e nos estale uma tempestade. Foi também no mar que vi dor e tristeza, seja humana seja animal. Sítio perfeito para a melancolia, curar mágoas e quiça ter o tempo do mundo para as resolver. Custava-me muito ver dar a "vitamina" ao peixe, o anzól enfiado na boca do peixe o amordaçar sôfrego da morte anuniada do peixe. É um ser vivo e aqui aprendi que tenho uma força estranha aos meus valores de base. O radicalismo, o risco e o desporto no mar andam de mão dada. Um barco, máquina que é pode falhar e o mais certo, é falhar. A nossa criatividade terá de sair do baú. No mar a hierarquia humana é suplantada pela hierarquia universal, quando se está lá metido de nada nos serve: fofoca, inveja, ódios e rancores, "desimportâncias" que numa pequena onda, um momento de vento ou escuridão no mar rápidamente se esqueçe. Não há espaço para a mesquinhice nem para heróis. Batemos na humildade. O mar deu-me o lugar que tenho neste contexto e ensinou-me o valor que se dá a uma pequena pulga, microscópica agarrada entre dedos dos pés, é o valor que se dá a atos humanos. Está a parecer que não acabarei. Assim vou terminar por dizer o que o mar não me deu: o livro.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Maputo, calma

Estranha ordem das palavras, Maputo masculino, cidade feminina. E está calma, muito calma, demasiado calma. Faltam carros a circular, nada se sabe dos próximos. Estrá tudo muito calmo. E dizem que levará o próximo cerca de uma ano para a sua mudança de governo. Credo, um ano de calma, assim tanta? O problema é que as contas têm de ser pagas, os ordenados pagos e os impostos já nem falo. Quem paga isso? Se está calmo, muito calmo...! Seminários, as chuvads de Nampla (infelizmente já ceifaram se não me engano 4 vidas), as mensagens da publicidade do(a) Sida que não são compreendidas, é preciso voltar ao básico, menos criatividade mais palavras de ordem, directas, a "onda de solidariedade" no dia 26 de janeiro promovido pela FDC aqui memso ao lado na Escola Naútica e nada se ouve,lê ou vê. Que se passa? Ah, esquecia as velhas consequências de actos resultantes em assaltos à mão armada continuam, a rent-a-car Imperial já foi assaltada duas vezes este mês e levaram dinheiro. Os dias pesadíssimos de uns ceús loucamente cinzentos, carregados de peso molhado mas na chove, que raio. Sai a dor de cabeça que nem boné a tapar-nos a soleira. O Ministro das Finanças da UK anda lá pelo outro lado não é? Plano Marshall para África? Não é um pouco velho esse plano? Hum.....

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Coconuts, Búzio AKA Minigolf.

Para os que daqui são, sabem bem a que me refiro. Para uns lá para os anos 70, era dos poucos sítios onde se podia alçar a perna, eu ainda um pouco catraia e a coisa tinha de ser muito bem negociada com os meus pais, caso não fossem. Durante estes útlimos 10 anos, o Búzio, como é carinhosamente conhecido, transformou-se várias vezes e mais recentemente acompanhado por um bar "Sixties" onde já me ía encaixando melhor, dado que nunca fui de raves. Em paralelo, foi abrindo um outro espaço o Mambo's Caffee essencialmente música cubana. Perto da mesquita na baixa e tem talvez dos pátios sul americanos mais inn da cidade. MAAAAAAAS, a recente remodelação a que o búzio foi sujeito encabeçado pelo Luis Moreira, um português conhecido daqui e daí, dos maiores responsáveis pela divulgação e promoção de música africana, colocou o nosso búzio na dianteira no que concerne a espaços de diversão nocturna e diunra, visto que e com a perceria da mCel (telefonia móvel) têm vindo a promover espectáculos todas as semanas mesmo à tarde. Passou a chmar-se Coconuts, com uma palmeirinha que nada diz do espaço que lá se encontra neste momento. Vamos dizer assim: sofisticado, muito inn, muito hot, bem cheiroso (não se riam, que esta factor é importante), uma decoração incrivelmente elegante, com toques afro-nova yorkinos, 5 bares internos, WC limpos, uma iluminação qb, e um palco delicioso. é hoje um espaço multi-usos de primeira mão com tudo o que tem de africano e que gosto. Continua a ser uma discoteca aberta, o ar circula. A noite Maputense continua a ser cosmopolita mas hoje já encontra sítio para abarcar um bom momento sem encontrões e empurrões para se estar. Estive ontem num concerto de affro-jazz, very nice sentada num sofá (ok, está certo que eu encontrava-me na zona VIP, sotão criado para o efeito), mesmo assim e olhando para baixo vi uma multidão de gente bem vestida, cheios de óculos de sol para os raios lunares decerto, mulheres aperaltadas e descascadas mas sem exageros, bicas de primeira e espaço para me mexer e muita "vib" que e aqui desculpem-me só aqui encontro, em áfrica. É que ontem foi Domingo. Sugiro vivamente que quem cá venha e se não arranjar convites e borlas, compre o bilhete de entrada para a melhor noite Maputense. Quando sentada ontem a ver tudo, passou um pequeno arrepio porque me lembrei de palavras que disse a meu pai a respeito de Maputo. O tempo das grades e da total falta de tudo, acabou e temo que muito dificilmente este ritmo seja parado. Concerto, música ao vivo, bar ou discoteca o Coconuts é hoje o melhor sítio da cidade para se curtir um pouco de música com qualidade e rodeada de qualidade. Os meus parabéns ao Luís e a todos os que o apoiaram, sim não posso esquecer do Izidine Faquirá, seu companheiro de guerra desde sempre.

sábado, janeiro 15, 2005

Política I

Ainda não toquei neste tema como deve ser. Tem a haver com o facto de que os partidos de hoje andam a fazer os que os partidos de ontem faziam, com menos sangue, maior abertura, mais apurada a verdade e menos limitativa a promessa. Mas por irritação minha, detenho uma relação de amor-ódio com este mal/bem que nos rege e faz reger, por ser um bem/mal necessário, porque me insulta no constante, acha que não percebo nada disto e que no final irei como "todos" votar. Mas engana-se. E sou religiosa, também. Pela fé não pela beatitude, pelo respeito de sentir que nos falta ainda muito por "atingir", mas assento acima de tudo a admiração pelo Humano. Posto isto, tudo quanto seja partido ou facção religiosa que "em nome" de forças superiores (ou será inferiores) ou declararmos os votos dos mortos como legais, desacredita e enfraquece quem o pratica. Logo "desconsigo" assentar a crença na política praticada e na missa rezada. Um dia destes começo a falar Tibetano, rapar o cabelo e achar que tudo o que me rodeia é um resultado do equilíbrio perfeito da Deusa.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Impostos.

Não existe por aí uma associação, classe, aglomerado de pessoas que defendam a utilização e destino dos impostos que passo a vida a pagar? É que o sindicato a mim soa-me a cosa nostra cujo denominador comum é sempre a exploração. Depois admiram-se pelo meu respeito pelos animais.

Vergonha do meu passaporte

José Mesquita, médico em Bangkok a dar o seu apoio afirma "tenho pena de dizer isto mas Portugal, não deu apoio rigorosamente nehum a este processo". Referindo-se à Filipa que perdeu ali seu pai e andou por lá à procura dele. Mas meus caros, que isto não seja novidade e que por aqui vivo, até esta data nunca vi Portugal através da sua embaixada fazer alguma coisa visível que seja. Eu explico, existem picos de insegurança em Maputo, altura do Natal sendo a mais complicada para o roubo de carros, assaltos à mão armada etc. É comum ver-se nos jornais cá avisos de embaixadas do EUA ou Inglaterra, mas Portugal, nunca. É que nem todos os cidadãos portugueses têm acesso à internet ou circula por grupos onde estas mensagens sejam disseminadas. Infelizmente é para mim, muito fácil ver os nossos podres e até que ponto os deixamos aqui em Moçambique.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

A QP em África.

E sim parece que vamos levantar asas e voar para o resto de África. Teremos de aguardar pormenores para mais tarde.

Praça da Alegria.

Sempre foi um programa, e já lá vão 10 anos que sei que existe. Pelo menos desde que aqui estou. Nunca foi um programa que me tenha feito "companhia" porque nunca me senti emigrante, cooperante. Como também nunca terá sido o programa que me tivesse puxado para ver porque...não. Não serei o seu grupo alvo. Mas e como que a dar-me uma lição de "não desprezes ou menosprezes a Praça da Alegria", fui completamente apanhada pela sua importância e sou contactada por um ex-cliente daqui que trabalhou cá, que leu uma mensagem que dizia assim: procuro MMICR algures entre a África do Sul e Moçambique, cel número tal, obrigada. Assim me re-encontro com uma amiga, que não falo há 10 anos. E podem ter a certeza que é esquisito ser-se apanhado assim. Recolhe-se as memórias, as histórias, as saudades os momentos e espaços comuns. Principalmente quando estão associados a uma adolescência que parec já tão longínqua. Bem hajam assim estes programas popularuchos que conseguem juntar pessoas entre dois continentes.

As viroses de novo.

É que quando os médicos não sabem, não diagnosticam como deve ser, seja por estarem fartos, cansados, ou não tenham as estruturas para bem atender - chama-lhe de virose. O que aconteceu ontem quando andei uma série de horas às voltas com uma criança de 6 anos e que já vai no quarto dia de febre e com dor de garganta e depois de um médico ter diagnosticado uma amigdalite e outro que apenas mandou fazer testes, sem qualquer base dado que quando fomos levantar os resultados do hemograma, não estava pronto. Isto quer dizer que o médico receitou um antibiótico para tratar um "virose" que ele próprio desconhecia as causas. A médica amiga, descobre que é uma infecção bacteriana, tem foco de pneumo-bronco-qualquer-coisa nos dois pulmões e uma afta na garganta! Não podemos esquecer que ainda não passaram 20 dias desde que morreu uma sobrinha minha com 10 anos exactamente com os mesmos sintomas. Entretanto, por todo o Maputo vou ouvindo que anda por aí uma virose chata, com sintomas de gripe forte, parecido com a malária e tal, adultos e crianças e faz-me alguma comichão quanto à forma como se passam por "epidemias" sem que se saiba rigorosamente nada. A empregada que levei ao hospital com malária, já voltou a trabalhar, tinha malária mas não poderei esquecer nunca o que disse um enfermeiro já de idade no Polana Caniço "anda aí umas febres, que não sabemos bem o que são!" Mas não é malária. Do grupo da Ponta do Ouro de 8 pessoas 4 já ficaram afectadas, representando 50%. Número muito elevado. Dos quais 3 crianças e um adulto. Mas é assim, sendo este um dos preços que pagamos por cá viver. Ou seja, se não tivermos uma amiga e que seja médica e boa, estamos mal. Agora imaginem os restantes 17 milhões de Moçambicanos. Pelo menos desta vez não é por causa do lixo nas redondezas.

A cuspidela alfacinha e o morto maputense.

Já ando há uns tempos para falar neste ponto. Porque mete nojo, arrepia-me as sinapses e "desconsigo" entender que tipo de gozo pode ser tirado daí. Cuspir para o chão, para os pés do vizinho traseunte, sabe que me acompanhou quantas vezes eu própria pisei "bisgadelas" nausiabundas. Mas permitam-me começar do início. Antes de ter visto tal acção, vim eu de África para Portugal, e duas coisas (entre outras mas hoje não!) me saltaram à vista no que toca a usos e costumes da sociedade que me encontrava a penetrar. As meias de vidro, que as minhas pernas teimaram em não gostar lá muito, sempre me fizeram parecer objecto de fisioterapia e só bem mais tarde da adolescência é que e através dos meios informativos disponíveis, filmes e demais comentários, só os franceses é que me convenceram de que se tratava de um acessório altamente sensual. Quem diria. A outra questão e aqui prende-se com questões de cultura. Tenho uma teimosa forma de olhar para as coisas que não compreendo, como sendo questões a aprofundar. No caso de Maputo, ou África dado que o exemplo que darei aqui agora seja comum a África, será o de ver mulheres a cumprirem as suas necessidades fisiológicas "leves" em pé, cheias de técnica, sabedoria e direccionadas sem que um pingo suje. Apesar de ter crescido a ver sempre me intrigou a razoabilidade. Aqui e passo a ignorância, encontrei a gaveta cuja razão me transportaria para a migração do campo para a cidade, juntamente com a falta de locais apropriados para tamanho alívio, há que arranjar solução capaz. Mas confesso que não consegui encontrar uma razão de fundo básico para a cuspidela, venha de quem vier. Vi cuspidelas de todos os tipos: saídas de um taxi, comigo lá dentro, enquanto esperava por um autocarro, em plena caminhada de ponta A a ponto B, engravatados, enquanto se esperava pela consulta médica, e na falta de chão os sagrados lenços com um também outro hábito de os abrir para confirmarmos não sei bem o quê? Consistência, cor, espessura, tipo se ranho ou escarro, tosse ou tuberculose ou a pura confirmação de que aquilo que foi sonoramente expulso pela boca, estava lá. Este foi um hábito que até hoje não me habituou nem habituará. E depois tem outra coisa simples: uma sociedade cujos efeitos higiénicos já estariam mais avançados, explicados e onde tanto falamos de respeito pelo espaço do outro, não se concebe que se veja com normalidade a cuspidela em pleno público. Falando de um outro efeito cultural que neste caso possa chocar, mas que quase será com a mesma normalidade que acontece. Quando aqui voltei e à porta do meu prédio, estava um morto. Morrido, falecido. Não enterrado. Em pleno passeio. Ía eu a pé para o supermercado e vejo pessoas a saltarem, tornearem, desviarem os seus caminhos pelo morto. Senti-me um pouco sozinha porque vejo imensas pessoas a negarem o evidente. Estava ali um morto. Será que já ligaram para se retirar o corpo do passeio? Como é possível passar-se por cima, do lado desviando sem que as expressões não mudem? Como? Os dez anos subsequentes a seguir mostraram-me como e porquê que foi possível ter visto e presenciado a indiferença tão grande pela vida.Ou a pura resignação do fatalismo do acontecimento. Seja ele de nascimento ou falecimento. Até amanhã.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Spooooooooor......ting.

Sem comentários. Ganhou. Ao Benfica. Podia ter sido ao Porto. Continuamos uns coxos no futebol, com excelentes jogadores. Faltou o espectáculo, cuidadosamente oferecido pela falta, profunda falta de civismo que nos acompanha ao serem atirados objectos aos jogadores. Tribalismo? Ná. Um dois a um que sabia a 3 a um. Ganhou. Está a ganhar. Manter? Veremos. Sporting habituou-me à tolerância, que não tinha. Curta a vida esta, não há muito tempo a perder com "tretas". Mas elas há e eles também. Ganhou e viva o sporting!!!

sexta-feira, janeiro 07, 2005

100 mil $

Passada
Foi assim que humildemente Moçambique conseguiu prestar o seu contributo àquela que foi a maior desgraça de sempre. Sendo este um país pobre e com parcos recursos, tudo me caiu, surpreendedo-me em pleno pela atitude. Além deste contributo, sabemos que a Vodacom, telefonia móvel e concorrente da mCel lançou uma campanha para enviar os valores para a Ásia. Actos simples, reduzidos se comparados com o resto do mundo mas dignificantes para este país que tanto adoro.

Vóvó Alice, as nossas empregadas.

De tudo podervos-ei dizer em relação às empregadas ou empregados que temos, mas está na hora de "postar" um tributo para a sua incondicional lealdade, carinho, dedicação e amor. Quando aqui voltei a Maputo, já no longínquo ano de 1994, meu pai ainda cá estava e já tinha a trabalhar com ele a Vóvó Alice. Tentarei ser breve, mas estas coisas de ser humano nem sempre ajuda, e pela positiva. Meu pai decide voltar para Portugal, achando eu "coisa" de doidos, dado que eu estava a fazer precisamente o contrário, a sair de Portugal. Tinha com ele na altura dois empregados em casa e um no escritório que foram naturais heranças de uma longa história dele próprio aqui em Moçambique. A altura em que toma a decisão eu não estava sificientemente organizada financeiramente para aqui ficar mas a vontade era maior e lá me decidi levá-lo ao aeroporto em Johanesburgo com as suas malas e toda a história dele e voltar para Maputo. Desse momento, só vale a pena relatar o primeiro roubo de carro à mão armada que tive e tive que deixar meu pai arrancar muito preocupado, tendo proferido umas palavras mui interessantes e que cito (porque vale a pena) "só tenho pena que não tenhas 5 anos para te puxar pela orelha e por-te no avião!" Assim foi e o meu regresso nos 600kms a Maputo foram também marcados por uma multa que apanhei por excesso de velocidade. Dizia eu na altura ao meu pai ou dad como lhe chamamos, que Maputo se encontrava na fase de crescimento e ele já saiu de cá com bicas disponíveis na praça. Ao regressar a casa, tenho eu uma conversa muito séria com todos os empregados na medida em que eu não sabia bem o que fazer, como fazer e se conseguia fazer. Se não me engano na altura meu pai disse anos mais tarde, que me tinha dado uns meses para aqui aguentar, já que eu estava sozinha. E o tom da conversa foi na base "não sei quando terei dinheiro para pagar ordenados, mas quando tiver pagos os retro-activos, agora quem quiser sair pode sair sem remorso". Assim foi, sairam 2 na altura mas a Vóvó Alice, olhou para mim e disse-me "quem vai tomar conta da menina?" Eu tinha 26 anos. Respondo com meio lágrima de medo, meia lágrima de abandono. Vóvó, não te preocupes vai tomar conta dos teus eu cá me arranjo e quando eu puder vou-te buscar lá na casa onde estiveres". Ela não foi, virou-me as costas e disse-me que tinha de ir fazer a sopa para a menina porque a viagem de JHB foi longa. Esse momento marcou-me tanto, que ainda hoje só consegui chamar a Vóvó Alice de Vóvó, e desde esse momento está ela comigo e na família do meu pai há uma catrafada de anos. Tem hoje penso eu, cerca de 60 e tal anos. Já a mandei para casa descansar, eu continuaria a pagar ordenado todos os meses, mas ela diz que está à espera do meu filho primeiro e que só depois de tratar dele é que vai pensar nisso. A Alice, foi bábá da minha irmã e da irmã dela, trabalhou com meu pai mas tratou dele sempre e hoje aqui está, mulher com problemas de tensão por perto, sempre por perto sem falhar um único dia porque tem muitas saudades do patrão Nelson e da Jessy, não deixando passar duas semanas sem que pergunte por eles, pela saúde, se estão bem. A Vóvó Alice tem umas características engraçadas: é fina, e foi madrasta da senhora que trata das minhas unhas (esta também merece o seu post próprio) todas as semanas, chegou a ir a Portugal de férias, não come nada do que é habotual (carne, peixe) pela religião, mulher de pouca palavras, mau português mas duma dedicação e lealdade que só conheci com esta empregada. A ela, aqui fica o meu carinho, respeito e admiração também pela coragem dela em ter acreditado em mim.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Ponta do Ouro

Bom dia a todos e todas. Não irei relatar o meu fim de ano, apesar de ter sido algo inédito dado que terá sido a primeira vez onde não presenciei o "countdown" nem dos minutos nem dos segundos. Passei a meia a noite a comer o bacalhau à brás que mui simpaticamente sugeriram que fizesse. Como devem perceber e para o bacalhau estar "fresquinho" precisamente à meia noite, teve o seu início às 22h00. Consegui tomar banho eram 23h45. Mas a bem da verdade e com toda a modéstia estava bem saboroso depois de um dedo cortado e uma bolha. Vê-se mesmo que tenho empregadas! Vamos no entanto às características de interesse do sítio além da sua beleza natural e que sejam também novoidade para quem lê. A primeira e que salta logo à vista, Ponta do Ouro é uma cidade relativamente protegida para quem tem 4x4, e quando por lá circulamos só vemos 4x4, motoquads de todos os feitios e tamanhos, ao ponto de vermos putos e pitas com menos de 10 anos em cima de motorizadas, sem capacete. A curtirem os melhores momentos da vida deles, decerto. Segunda questão, prende-se com o tamanho da cidade e contornos de vila. Disseram que a Ponta do Ouro estava cheia e eu vou-me rindo, pois ainda assim e na praia protegida sem vento, lá consegui ter a Zaca a correr por todos os lados e a chatear tudo quanto era quadrúdepe um pouco maior. A minha Zaca fartou-se de namorar e ninguém achou isso desmoralizante, até se riam. Deve ser por ser cadela. São os dias em que os estabelecimentos comerciais fazem receita. Mas choveu maningue no 31 para 01 e isso provocou o esvaziar da praia. Vamos à terceira questão e que a mim me toca particularmente. Civismo espontâneo. Quer acreditem, quer não vemos uma série de pessoas de todos os tipos, e todos sabemos que os boers são broncos e de goela larga, onde numa "cidade" não existe um polícia que seja (não vim nem um cinzentinho) todo o mundo cumpre com regras cívicas. Tenho de o dizer não vejo ninguém a cuspir para o chão, e a malta convive numa harmonia de respeito pelo vizinho que agrada. É preciso dizer que a Ponta do Ouro é património mundial, por isso protegido e a penúltima vez que lá estive, no tempo das cheias aqui, tive envolvida numa cena de protecção de praia e suas psicinas naturais, porque os boers levavam para lá os seus 4x4 sem piedade da vida marinha existente e minúscula. Eu, uma amiga minha, o embaixador francês da altura e mais uma pessoa. Hoje não é permitida a circulação de viaturas na praia. Hoje existe uma zona onde todos os barcos e motas de água embarcam e desembarcam e vivem em igual parceria com os banhistas. Impressionante. A quarta questão prende-se com as mansões que por lá já há. Não exagero na comparação com Miami, mas só porque o que existe à volta carece de estrutura comparativa. É que não existe estrada, os relvados ainda por serem organizados, os espaços urbanos arrumados. Mas não vi lixo como vi há uns anos aqui em Maputo. Mas que existem casas boas por lá, santa maria dos azuleijos, existem. Umas perto da praia, tipo beach front de madeira e a um preço de meio milhão de dólares americanos! Por último a questão de que e a fazer parecer a Mozal, todos andam de calções, e assim desde o presidente Mário Maxungo ao office boy duma qualquer empresa se mistura, conversa, partilha os mesmos espaços e gostos. Não há muito espaço para formalidades. Assim passamos o fim de ano de t-shirt, calções e pé descalço porque fez uma caloraça terrível. Os níveis de humidade exagerados e o resultado foram 5 dias a não conseguir dormir. Tentem imaginar adormecer com o cabelo molhado, banho frio tomado e uma toalha molhada no peito, só para conseguir fechar a pestana. Estava uma brasa. Ponta do Ouro é a terra para o mergulho e ver aquele que é considerado um dos mais bonitos mares do mundo sub-aquático pela sua riqueza do índico. Depois da meia noite resolvemos sair até à confusão e acabámos na Florestinha, onde todo o mundo entra sem pagar e tem esplanadas enormes ao ar livre e discoteca. Não há stock de gelo que aguente tanta gente. A Ponta do Ouro encontra-se a 120 kilómetros de Maputo, por picada. Existe um troço de alcatrão com cercae de 3 ou 4 kms and that is it. Resto é areia, possas, mato puro onde se passa pela reserva dos elefantes e que é preciso ter cuidado porque estes não são domesticados como os do Kruger Park e o nosso regresso ficou marcado pelo reboque do segundo 4x4 do grupo e que a 3 kms da Ponta do Ouro parou, assim mesmo e uma viagem que devia ter levado 3 horas levou 6, até chegarmos à Catembe. Aventura completa quando se viaja com 4 putos onde a mais velha tinha 10 anos. Foi delicioso mas já acabou, agora de volta à labuta. A todos um bom 2005.